Dia 8 de junho é a data mundial dedicada ao tema. Usos numa bacia hidrográfica refletem na quantidade e qualidade dos oceanos, como o lançamento indevido de resíduos sólidos que ameaçam espécies marinhas em extinção
Ações geram reações e no Meio Ambiente a situação é ainda mais alarmante. No Dia dos Oceanos, 8 de junho, o Comitê da Bacia do Rio Urussanga traz a tona um assunto de interesse coletivo: a contaminação das águas tem relação com os usos que se faz da terra pelos humanos. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que cerca de 80% da poluição marinha tem sua origem no continente e é transportada pelos rios até os oceanos. Anualmente, 13 milhões de toneladas de resíduos plásticos chegam aos oceanos.
A geóloga e professora doutoranda da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), Yasmine de Moura da Cunha, usa como exemplo a influência humana na carga poluidora de rios como a bacia do rio Urussanga, com 59 quilômetros de extensão da nascente até a foz na praia do Torneiro, fator que compromete o Oceano Atlântico e até a Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca.
“Este rio possui uma carga poluidora que entre tantos poluentes, como efluentes domésticos e industriais, fertilizantes e agrotóxicos, inclui aqueles resultantes da atividade mineira de carvão mineral e de seu passivo ambiental. Esta carga chega até o oceano, comprometendo uma área de interface entre zona costeira, a foz do rio Urussanga na forma de um estuário, e a porção sul da área terrestre e marinha da Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca. Faz parte da área de influência desta bacia o sistema lagunar, que inclui, por exemplo, a lagoa de Urussanga Velha. Na APA da Baleia Franca, além da presença da baleia franca austral, existe flora e fauna especiais, uma diversidade de frágeis ecossistemas costeiros e sítios arqueológicos”, pontua.
Fatores como este afetam a natureza, as comunidades pesqueiras e atingem toda a cadeia até chegar aos seres humanos. Por isso, a doutoranda salienta que a gestão integrada e participativa desta área de interação é importante para sua preservação. Os oceanos e mares cobrem dois terços do planeta, segundo a ONU.
“Os pescadores são os mais afetados pela situação de poluição. As águas de onde tiram seu sustento estão comprometidas pela carga poluidora trazida pelos rios. E para os consumidores resta a incerteza da qualidade do pescado. Para a preservação é necessário planejamento e comprometimento, como o plano de recursos hídricos da bacia do rio Urussanga, que está em construção, os planejamentos dos municípios com orla litorânea como Jaguaruna e Balneário Rincão, a promoção de educação ambiental para sensibilização e implementação de ações práticas e urgentes, e o comprometimento de todos, poder público e político, usuários de água e sociedade, pois cada um de nós é responsável e pode fazer a diferença”, frisa.
LIXO: UM DOS VILÕES
Apesar da evolução no tratamento de resíduos sólidos e de efluentes e uma maior conscientização da população em relação ao tema, a poluição nas águas causadas pelo lançamento de lixo, efluentes industriais e esgoto ainda atingem rios e oceanos. O engenheiro ambiental, especialista em resíduos sólidos e surfista há 30 anos, Thiago Maragno, relata as situações encontradas constantemente.
“Muitas pessoas ainda jogam resíduos em locais impróprios como beiras de rios, terrenos abandonados e nas faixas das rodovias, que após períodos chuvosos são carregados para os rios e consequentemente vão para os oceanos. Um exemplo recente foram as consequências das fortes chuvas registradas na região nos meses de fevereiro e maio. Foi percebido um grande acúmulo de lixo nos rios, córregos e nas drenagens que cortam a bacia do rio Urussanga. Esses lixos lançados de forma irregular causam inúmeros problemas e contaminação de aves e peixes e todo ecossistema marinho. Outro exemplo negativo é a construção de grandes edifícios na beira mar sem a devida estrutura, rede de esgoto e estação de tratamento”, enaltece.
Thiago comenta que o acúmulo de toneladas de plásticos e outros detritos demoram milhares de anos para se decompor e trazem prejuízos aos ecossistemas marinhos. “Além do desequilíbrio ecológico existe a contaminação de peixes e outros animais marinhos que serão consumidos pela população. É uma cadeia interligada. As mortes de aves que se alimentam de peixes contaminados, as águas das praias tornam-se impróprias para o banho e também ocorre a poluição dos estuários. Isso afeta até o turismo e a renda em certas regiões. É preciso urgentemente de investimentos em grande escala em saneamento básico e a mudança de comportamento das pessoas em ter um consumo mais consciente e sustentável”, salienta.
A campanha “Mares Limpos” e o desafio “O Mar Não Está para Plásticos”, incentivados pela ONU Meio Ambiente, já conta com 60 países e cobre 60% dos litorais do mundo.
Texto: Eliana Maccari - Jornalista MTB JP 04834SC
Fotos: Foz do rio Urussanga - praia do Torneiro
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