AS ÁGUAS DO RIO URUSSANGA ATRAVÉS DA HISTÓRIA
Sérgio Maestrelli
Da junção dos rios Carvão e Maior nasce o rio Urussanga.
No passado, esse encontro duplicava a vida.
Agora, desse encontro surge a morte.
Em seu trajeto recebe as águas dos rios dos Americanos, Deserto, Salto, Caeté... e deste modo as águas correm para o rio Urussanga.
O rio corre para a Praia do Torneiro, numa viagem de 40 km e mergulha no
Atlântico, mas antes do mergulho, parte desta água necessitamos.
Vamos ver então como as águas vão rolar.
Organização e pesquisa: Eliana Maccari, Rose Adami e Graziela Elias
Formatação e layout: Rogério Nunes
Realização: Comitê da Bacia do Rio Urussanga
Apoio: AGUAR / Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Sustentável - Governo de Santa Catarina
O RIO DOS ÍNDIOS XOKLENG
No período anterior à imigração italiana, as águas do rio Urussanga, com várias espécies de peixes, eram fontes de alimento para os animais e para os índios Xokleng, que também as utilizam para matar a sede, banhos e lazer. Aos índios devemos o nome do rio e do município de Urussanga que tem origem na língua tupi-guarani. A palavra Yroiçanga significa água muito fria.
Autor da fotografia: Sérgio Maestrelli
Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina
O RIO COMO TÁBUA DE SALVAÇÃO
Logo no início da história da colonização de Urussanga, em 1880, o pavor, a inquietação, a desesperança tomaram conta dos imigrantes com a peste varrendo a colônia. Febre, calafrios e a morte chegando e com o agravante do completo desconhecimento das suas causas. Talvez tifo, talvez peste bubônica, talvez... As águas do rio Urussanga e seus afluentes serviram de antídoto e remédio para o tratamento dos doentes, que ardendo em febre eram deitados nas fontes, banhados e margens de rios para receber a divina água fria. Para muitos foi a tábua de salvação e deste modo o rio Urussanga havia se transformado no rio Jordão bíblico, no rio Ganges, o rio sagrado da Índia.
Autor desconhecido
Acervo: Família Bettiol
COM O ADVENTO DO IMIGRANTE
Com o advento da imigração italiana, as águas tiveram sua utilização direcionadas para atividades econômicas com a implantação de serrarias e atafonas, engenhos, ferrarias, movidos pela força motriz. Nas localidades haviam várias atafonas que com a força das águas, moviam as pedras que transformavam milho em polenta e as serrarias instaladas também beneficiavam a madeira para a construção de casas. As águas dos rios movimentavam as primeiras indústrias dos antepassados.
Acervo: Jaira Meneghel (Empresa Chapam)
Acervo: Família Bez Fontana (Início século XX)
Acervo: Livro de Venícius Búrigo
Acervo: Família Bez Fontana
O RIO COMO LOCAL E FONTE DE LAZER
As águas do rio Urussanga em seus pontos mais profundos serviram de lazer para a velha geração dos anos de 1960, com os banhos nos ensolarados domingos do verão ou navegar com balsas de troncos de bananeira. Numa época sem piscinas e sem trampolim, eram comuns os mergulhos dos mais corajosos que se atiravam em suas águas das pontes sobre os rios.
Acervo: Jornal Vanguarda
Acervo: Hedi Damian
Acervo: Edna Zannin Lopes
Acervo: Paulinho Cascavel
O RIO E A EXPLORAÇÃO DO CARVÃO
Com o início da exploração carbonífera, na localidade de Rio Deserto, em Urussanga, a partir de 1918 e na localidade de Rio Carvão, em 1941, as águas passam a transportar a morte. Otávio Sorato, 100 anos, de Estação Cocal relatou que "a água suja do carvão descia e os peixes se aglomeram num canto fora d'água buscando desesperadamente o oxigênio da vida. Uma cena triste. Eu não sabia porque acontecia isso. Pensava que era uma doença". Nos anos de 1940 até os anos de 1980, as águas do rio Urussanga lavaram o carvão e do rio se extraía a moinha. Homens nas picaretas e mulheres na escolha do carvão.
Acervo: Blog Santana Mineração
Acervo: Sérgio Maestrelli
O RIO EM SEUS MOMENTOS DE FÚRIA
Nem tudo foi calmaria com as águas frias do rio Urussanga. Elas tiveram momentos de fúria e irritação, ao sair do leito do rio, nas inundações de 1950, 1953, 1974 e causar inúmeros estragos e grandes prejuízos. Nos anos de 1950, as águas enciumadas visitaram parreiras e cantinas, misturando-se com vinho. Em 1974, elas passearam nas principais avenidas, além de destruir inúmeras ruas e dezenas de residências de diferentes municípios. Foram as "águas de março" registradas inclusive numa música interpretada por Elis Regina.
Acervo: Antonio Luiz Cechinel / Roque Salvan
Acervo: Museu Histórico Monsenhor Agenor Neves Marques
Acervo: Museu Histórico Monsenhor Agenor Neves Marques
Acervo: Museu Histórico Monsenhor Agenor Neves Marques
Acervo: Jornal Vanguarda
Acervo: Silvina Bressan Fidelis Silva / Roque Salvan
Autor desconhecido
Acervo: Museu Histórico Monsenhor Agenor Neves Marques
O RIO E O LIXO DA NOSSA ESTÚPIDA GERAÇÃO
A poluição pelo carvão foi a contribuição das gerações passadas. A nossa não foi menos deprimente. O mantra do "não presta ou não serve, jogue no rio" avançou gerações. Hoje, o rio Urussanga, totalmente assoreado, insultado pelo lixo, com pH 2,9 e com suas águas e pedras com a coloração do falso ouro, só nos resta observar a sua passagem rumo ao mar. Apesar das inúmeras campanhas de conscientização alguns ainda resistem e continuam a jogar lixo embalado ou não, lançar em seu leito esgoto doméstico ou industrial, sem tratamento. Como conscientização, aliada a leis ambientais, não surtem efeito, só nos resta apelar ao espírito religioso dos habitantes da bacia do rio Urussanga para que observem o preceito do "Respeite os Mortos".
Acervo: Sérgio Maestrelli
Acervo: Sérgio Maestrelli
Acervo: Comitê da Bacia do Rio Urussanga
Acervo: Sérgio Maestrelli
UMA FÓRMULA QUÍMICA MUITO SIMPLES: "AGÁDOISÓ"- (H20)
Quatro letras e um acento. Apenas dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Tão simples e tão vital. A vida está na água. A água está na vida. A vida é água. Sem ela, o caos e o desequilíbrio total. Ela está nos rios, nos mares, nos oceanos, nas nuvens, na neve, no gelo, nas nascentes, nos lagos, nas lagoas, nos riachos, no ar, no poço, nos lençóis subterrâneos, no barro, nas garrafas pet, nos vegetais e nos animais. Está em nós. Somos 70% de pura água. A terra onde pisamos é santa e a água é sagrada. Respeite a água. Ela é feminina, uma deusa e como tal deve ser preservada.
Acervo: Roque Salvan
Acervo: Jornal Vanguarda
Acervo: Família Bettiol
Acervo: Museu Histórico Monsenhor Agenor Neves Marques
Acervo: Roque Salvan
Acervo: Roque Salvan
Acervo: Museu Histórico Monsenhor Agenor Neves Marques
Acervo: Edna Zannin Lopes